quarta-feira, 23 de junho de 2010

não quero.



Eu nasci, sempre tive tudo o que quis. Excelentes pais mesmo não tendo a estrutura perfeita. Quando criança ia a praia, construia castelos de areia, só usava calcinha e a entupia de areia. Brincava na rua de bola, de ginástica, bicicleta até a noite sem perigo algum. A casa da minha tia-avó era a casa dos sonhos, tinha todos os doces, brinquedos, primos e farra. Meu primo gay sempre me travestia e me ensinava as coreografias da Madonna.
Na adolescência era rebelde, não falava com ninguém (bom, desde criança fui assim, minha mãe foi chamada no meu pré, pois eu não queria me relacionar com meus colegas de classe). Usava roupas escuras, cabelo preto e maquiagem forte. Tentava fugir do que a maioria era. Acabei entrando numa escola de patricinhas, sai de lá com a única amiga que entrei, pelo menos sai. Tive boas festas góticas proibidas para menores, mas eu tinha identidade falsificada - que fiz questão de picá-la quando me tornei maior.
Entrei pra faculdade num lugar esquecido, talvez tenha me tornado esquecida. Mas tudo aconteceu de uma forma que hoje posso dizer que eu quis assim.
Eu só quero resgatar tudo isso e fugir da minha maturidade atingida, ter uma liberdade inalcansável, uma insanidade mental de raros, a beleza pura e simples dos tolos.
Quero a ânsia de viver. Quero aprender, viver, correr. Quero cansar, parar, respirar, ter filhos, amar mais ainda se possível. Não quero cair no esquecimento.